A ansiedade é uma parte natural da vida e, em níveis normais, ajuda-nos a funcionar no nosso melhor. No entanto, para as pessoas com perturbações de ansiedade, a ansiedade é avassaladora e difícil de controlar. As perturbações de ansiedade desenvolvem-se a partir de uma mistura de factores biológicos (genéticos) e psicológicos que, quando combinados com o stress, podem levar ao desenvolvimento de doenças. Os diagnósticos primários relacionados com a ansiedade incluem a perturbação de ansiedade generalizada, a perturbação de pânico, a diversas fobias específicas, a perturbação de ansiedade social (fobia social), a perturbação de stress pós-traumático e a perturbação obsessivo-compulsiva.
Mas o que é a Ansiedade?
O que é a ansiedade? A maioria de nós sente alguma ansiedade quase todos os dias da nossa vida. Talvez esteja a chegar um teste importante para aquela cadeira complicada da Universidade. Ou talvez haja aquele grande jogo no próximo sábado, ou aquele primeiro encontro com alguém novo que esperamos impressionar. A ansiedade pode ser definida como um estado de humor negativo que é acompanhado por sintomas corporais, como aumento da frequência cardíaca, tensão muscular, sensação de mal-estar e apreensão em relação ao futuro (1).
A ansiedade é o que nos motiva a planear o futuro e, neste sentido, a ansiedade é, na verdade, uma coisa boa. É aquela sensação irritante que nos motiva a estudar para aquele teste, a treinar mais para aquele jogo ou a dar o nosso melhor naquele encontro. Mas algumas pessoas sentem a ansiedade de forma tão intensa que ela deixa de ser útil. Podem ficar tão sobrecarregadas e distraídas com a ansiedade que acabam por chumbar no teste, enganar-se naquele passe de bola ou a falhar um golo de baliza aberta, ou passar o encontro todo a pensar noutras coisas e a evitar o contacto visual. Se a ansiedade começar a interferir na vida da pessoa de uma forma significativa, é considerada uma perturbação.

A ansiedade e as perturbações estreitamente relacionadas emergem de “vulnerabilidades triplas”, uma combinação de factores biológicos, psicológicos e específicos que aumentam o nosso risco de desenvolver uma perturbação (1). As vulnerabilidades biológicas referem-se a factores genéticos e neurobiológicos específicos que podem predispor alguém a desenvolver perturbações de ansiedade. Nenhum gene isolado causa diretamente ansiedade ou pânico, mas os nossos genes podem tornar-nos mais susceptíveis à ansiedade e influenciar a forma como o nosso cérebro reage ao stress (2, 3). As vulnerabilidades psicológicas referem-se às influências que as nossas experiências precoces têm na forma como vemos o mundo. Se fomos confrontados com stressores imprevisíveis ou experiências traumáticas em idades mais jovens, podemos vir a ver o mundo como imprevisível e incontrolável, até mesmo perigoso (4). As vulnerabilidades específicas referem-se à forma como as nossas experiências nos levam a concentrar e a canalizar a nossa ansiedade (5). Se aprendemos que a doença física é perigosa, talvez através do testemunho da reação da nossa família sempre que alguém fica doente, podemos focar a nossa ansiedade nas sensações físicas. Se aprendemos que a doença física é perigosa, talvez por testemunharmos a reação da nossa família sempre que alguém fica doente, podemos concentrar a nossa ansiedade nas sensações físicas. Se aprendemos que a desaprovação dos outros tem consequências negativas, ou mesmo perigosas, como gritarem connosco ou sermos severamente castigados até pela mais pequena ofensa, podemos concentrar a nossa ansiedade na avaliação social. Se aprendermos que o “qualquer coisa pode correr mal” a qualquer momento, podemos concentrar a nossa ansiedade em preocupações com o futuro. Nenhuma destas vulnerabilidades causa diretamente perturbações de ansiedade por si só – em vez disso, quando todas estas vulnerabilidades estão presentes, e experimentamos algum stress desencadeante na vida, o resultado pode ser uma perturbação de ansiedade (5). Nas próximas secções, vamos explorar brevemente cada uma das principais perturbações baseadas na ansiedade, encontradas na quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-5).
Perturbação de Ansiedade Generalizada
A maioria de nós preocupa-se com alguma frequência, e essa preocupação pode ser útil para nos ajudar a planear o futuro ou para nos lembrarmos de fazer algo importante. A maioria de nós consegue pôr de lado as suas preocupações quando precisa de se concentrar noutras coisas ou deixar de se preocupar completamente quando o problema já passou. No entanto, para alguém com perturbação de ansiedade generalizada (PAG), estas preocupações tornam-se difíceis, ou mesmo impossíveis, de desligar. A pessoa pode dar por si a preocupar-se excessivamente com uma série de coisas diferentes, tanto menores como catastróficas. Os critérios do DSM-5 especificam que, para receber um diagnóstico de PAG, é necessário que pelo menos seis meses de ansiedade e preocupação excessivas deste tipo sejam contínuas, ocorrendo na maior parte dos dias durante uma boa parte do dia. Cerca de 5,7% da população preencheu os critérios para PAG em algum momento da sua vida (6), o que faz com que seja uma das perturbações de ansiedade mais comuns.
O que é que leva uma pessoa com PAG a preocupar-se mais do que a pessoa normal? A investigação mostra que os indivíduos com PAG são mais sensíveis e vigilantes em relação a possíveis ameaças do que as pessoas que não são ansiosas (7). Isto pode estar relacionado com experiências stressantes precoces, que podem levar a uma visão do mundo como um lugar imprevisível, incontrolável e até perigoso. Alguns sugeriram que as pessoas com PAG se preocupam como uma forma de ganhar algum controlo sobre estas experiências de outra forma incontroláveis ou imprevisíveis e contra resultados incertos (8). Ao passar repetidamente por todos os cenários possíveis de “E se?” na sua mente, a pessoa pode sentir que é menos vulnerável a um resultado inesperado, dando-lhe a sensação de que tem algum controlo sobre a situação. Outros sugeriram que as pessoas com PAG se preocupam como forma de evitar sentirem-se angustiadas (9). Por exemplo foi descoberto que aqueles que se preocupavam contantemente quando confrontados com uma situação stressante tinham menos estimulo fisiológica do que aqueles que não se preocupavam, talvez porque a preocupação os “distraía” de alguma forma.

O problema é que todo este “e se?” não aproxima a pessoa de uma solução ou resposta e, de facto, pode afastá-la de coisas importantes a que deveria estar a prestar atenção no momento, como terminar um projeto importante. Muitos dos resultados catastróficos com que as pessoas com PAG se preocupam são muito improváveis de acontecer, por isso, quando o evento catastrófico não se concretiza, o ato de se preocupar é reforçado (10). Por exemplo, se uma mãe passa a noite toda preocupada se a filha adolescente vai chegar a casa em segurança depois de uma saída nocturna e a filha regressa a casa sem incidentes, a mãe pode facilmente atribuir o regresso em segurança da filha ao sucesso da sua “vigília”. O que a mãe não entendeu é que a filha teria regressado a casa igualmente segura se se tivesse concentrado no filme que estava a ver com o marido, em vez de se preocupar. Desta forma, o ciclo de preocupações perpetua-se e, consequentemente, as pessoas com PAG perdem frequentemente muitos acontecimentos agradáveis das suas vidas.
Perturbação de pânico e agorafobia
Já alguma vez teve um quase acidente ou foi apanhado de surpresa de alguma forma? É possível que tenha sentido uma avalanche de sensações físicas, como um coração acelerado, falta de ar ou sensações de formigueiro. Esta reação de alarme é designada por resposta de “luta ou fuga” (11) e é a reação natural do seu corpo ao medo, preparando-o para lutar ou fugir em resposta a uma ameaça ou perigo. É provável que não tenha ficado muito preocupado com estas sensações, porque sabia o que as estava a causar. Mas imagine que esta reação de alarme surge “do nada”, sem razão aparente, ou numa situação em que não esperava ficar ansioso ou com medo. A isto chama-se um ataque de pânico “inesperado” ou um falso alarme. Como não existe uma razão aparente para a reação de alarme, pode reagir às sensações com um medo intenso, talvez pensando que está a ter um ataque cardíaco, a enlouquecer ou mesmo a morrer. Pode começar a associar as sensações físicas que sentiu durante o ataque a este medo e pode começar a esforçar-se para evitar ter essas sensações novamente.

Os ataques de pânico inesperados como estes estão no centro da perturbação de pânico (PP). No entanto, para receber um diagnóstico de PP, a pessoa não só tem de ter ataques de pânico inesperados, como também tem de sentir uma ansiedade intensa e continuada durante pelo menos um mês, causando sofrimento ou interferência significativos na sua vida. As pessoas com perturbação de pânico tendem a interpretar mesmo as sensações físicas normais de uma forma catastrófica, o que desencadeia mais ansiedade e, ironicamente, mais sensações físicas, criando um ciclo vicioso de pânico (12). A pessoa pode começar a evitar uma série de situações ou actividades que produzem a mesma excitação fisiológica que estava presente durante o início de um ataque de pânico. Por exemplo, uma pessoa que tenha sentido o coração acelerado durante um ataque de pânico pode evitar o exercício físico ou a cafeína. Uma pessoa que tenha sentido sensações de asfixia pode evitar usar camisolas de gola alta. O evitamento destas pistas corporais ou somáticas internas para o pânico é designado por evitamento interoceptivo (13).
O indivíduo pode também ter sentido uma vontade irresistível de fugir durante o ataque de pânico inesperado. Isto pode levar a uma sensação de que certos lugares ou situações – particularmente situações em que a fuga pode não ser possível – não são “seguros”. Estas situações tornam-se desencadeantes externos para o pânico. Se a pessoa começa a evitar vários locais ou situações, ou ainda suporta essas situações mas fá-lo com uma quantidade significativa de apreensão e ansiedade, então a pessoa também tem agorafobia (1). A agorafobia pode causar perturbações significativas na vida de uma pessoa, fazendo com que ela se esforce por evitar situações, como acrescentar horas a uma viagem de ida e volta para evitar apanhar o comboio ou encomendar apenas comida para evitar ter de entrar numa mercearia. Num caso trágico que tratei, uma mulher que sofria de agorafobia não tinha saído do seu apartamento durante 20 anos e tinha passado os últimos 10 anos confinada a uma pequena área do seu apartamento, longe da vista do exterior. Em alguns casos, a agorafobia desenvolve-se na ausência de ataques de pânico, pelo que constitui uma perturbação distinta no DSM-5. Mas a agorafobia acompanha frequentemente a perturbação de pânico.
Cerca de 4,7% da população preencheu critérios para PP ou agorafobia ao longo da sua vida (6). Em todos estes casos de perturbação de pânico, o que antes era uma reação de alarme natural adaptativa torna-se agora um falso alarme aprendido e muito temido.
Fobias específicas
A maioria de nós pode ter medo de certas coisas, como abelhas, agulhas ou alturas (14). Mas e se esse medo for tão intenso que não se pode sair num dia de verão, ou tomar as vacinas necessárias para uma viagem especial, ou visitar o médico no seu novo gabinete no 26º andar? Para preencher os critérios para um diagnóstico de fobia específica, tem de existir um medo irracional de um objeto ou situação específica que interfere substancialmente com a capacidade de funcionamento da pessoa. Por exemplo, um doente recusou ir viver para uma residência artística prestigiada e cobiçada porque exigia que passasse algum tempo perto de uma área arborizada, onde havia insectos. Outro doente saía de casa de propósito duas horas mais cedo todas as manhãs para poder passar pelo quintal vedado do vizinho antes de este deixar sair o cão pela manhã.
A lista de fobias possíveis é impressionante, mas são reconhecidos quatro subtipos principais de fobia específica: tipo sangue-lesão-injeção, tipo situacional (como aviões, elevadores ou locais fechados), tipo ambiente natural para acontecimentos que se podem encontrar na natureza (por exemplo, alturas, tempestades e água) e tipo animal.

Uma quinta categoria, “outras”, inclui as fobias que não se enquadram em nenhum dos quatro subtipos principais (por exemplo, o medo de se engasgar, de vomitar ou de contrair uma doença). A maioria das reacções fóbicas provoca um pico de atividade no sistema nervoso simpático e um aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, podendo mesmo ocorrer um ataque de pânico. No entanto, as pessoas com fobias a agulhas ou injeções normalmente experimentam uma queda acentuada da frequência cardíaca e da pressão arterial e podem até desmaiar. Desta forma, as pessoas com fobias deste tipo diferem quase sempre na sua reação fisiológica das pessoas com outros tipos de fobia (15). Esta fobia também é mais frequente em famílias do que qualquer outra perturbação fóbica conhecida. A maioria das pessoas que sofre de fobia específica tende a ter fobias múltiplas de vários tipos (16).
Perturbação de ansiedade social (fobia social)
Muitas pessoas consideram-se tímidas, e a maioria das pessoas considera a avaliação social desconfortável, na melhor das hipóteses, ou fazer um discurso algo mortificante. No entanto, apenas uma pequena proporção da população teme esses tipos de situações de forma suficientemente significativa para merecer um diagnóstico de transtorno de ansiedade social (TAS). O TAS é mais do que uma timidez exagerada (17). Para receber um diagnóstico de TAS, o medo e a ansiedade associados a situações sociais devem ser tão fortes que a pessoa as evita completamente ou, se não for possível evitá-las, a pessoa as suporta com grande angústia. Além disso, o medo e o evitamento de situações sociais devem interferir na vida quotidiana da pessoa ou limitar seriamente o seu funcionamento académico ou profissional. Por exemplo, uma doente comprometeu a sua média perfeita porque não conseguiu completar uma apresentação oral exigida numa das suas aulas, o que a levou a reprovar na disciplina. O medo de uma avaliação negativa pode fazer com que alguém recuse repetidamente convites para eventos sociais ou evite conversar com pessoas, levando a um isolamento cada vez maior.

As situações sociais específicas que desencadeiam a ansiedade e o medo vão desde interacções individuais, como iniciar ou manter uma conversa; a situações baseadas no desempenho, como fazer um discurso ou atuar num palco; à assertividade, como pedir a alguém que mude comportamentos perturbadores ou indesejáveis. O medo da avaliação social pode mesmo estender-se a situações como utilizar casas de banho públicas, comer num restaurante, preencher formulários num local público ou mesmo ler num comboio. Qualquer tipo de situação que possa potencialmente chamar a atenção para a pessoa pode tornar-se uma situação social temida. Por exemplo, uma doente fazia de tudo para evitar qualquer situação em que tivesse de usar uma casa de banho pública, com medo que alguém a ouvisse na casa de banho e pensasse que ela era nojenta. Se o medo se limitar a situações baseadas no desempenho, como falar em público, é atribuído um diagnóstico de PAG apenas de desempenho.
O que é que leva alguém a ter tanto medo de situações sociais? A pessoa pode ter aprendido enquanto crescia que a avaliação social em particular pode ser perigosa, criando uma vulnerabilidade psicológica específica para desenvolver ansiedade social (18). Por exemplo, os pais da pessoa podem tê-la criticado e castigado duramente até pelo mais pequeno erro, talvez até mesmo castigando-a fisicamente.
Ou então, alguém pode ter sofrido um trauma social que teve efeitos duradouros, como ter sido vítima de bullying ou humilhação. Curiosamente, um grupo de investigadores descobriu que 92% dos adultos da sua amostra de estudo com fobia social sofreram provocações e bullying graves na infância, em comparação com apenas 35% a 50% das pessoas com outras perturbações de ansiedade (19). Outra pessoa pode reagir tão fortemente à ansiedade provocada por uma situação social que tem um ataque de pânico inesperado. Este ataque de pânico fica então associado (resposta condicionada) à situação social, fazendo com que a pessoa tenha medo de entrar em pânico na próxima vez que estiver nessa situação. No entanto, isto não é considerado PP, porque o medo da pessoa está mais centrado na avaliação social do que em ter ataques de pânico inesperados, e o medo de ter um ataque está limitado a situações sociais. Cerca de 12,1% da população em geral sofre de fobia social em algum momento das suas vidas (6), o que faz com que seja uma das perturbações de ansiedade mais comuns, perdendo apenas para a fobia específica.

Perturbação de stress pós-traumático
Com histórias de guerra, catástrofes naturais e agressões físicas e sexuais a dominarem os noticiários, é evidente que o trauma é uma realidade para muitas pessoas. Muitos traumas individuais que ocorrem todos os dias nem sequer chegam às manchetes, como um acidente de viação, violência doméstica ou a morte de um ente querido. No entanto, embora muitas pessoas enfrentem acontecimentos traumáticos, nem todas as pessoas que enfrentam um trauma desenvolvem uma perturbação. Alguns, com a ajuda da família e dos amigos, conseguem recuperar e continuar com as suas vidas. Para alguns, no entanto, os meses e anos que se seguem a um trauma são preenchidos com lembranças intrusivas do evento, uma sensação de medo intenso de que outro evento traumático possa ocorrer, ou uma sensação de isolamento e entorpecimento emocional. Podem adotar uma série de comportamentos para se protegerem de situações de vulnerabilidade ou insegurança, tais como examinar constantemente o que os rodeia em busca de sinais de perigo potencial, nunca se sentarem de costas para a porta ou nunca se deixarem estar sozinhos em qualquer lugar. Esta reação duradoura ao trauma é o que caracteriza a perturbação de stress pós-traumático (PTSD).
O diagnóstico de PTSD começa com o próprio acontecimento traumático. Um indivíduo deve ter sido exposto a um acontecimento que envolva morte real ou ameaça de morte, ferimentos graves ou violência sexual. Para receber um diagnóstico de PTSD, a exposição ao acontecimento deve incluir a experiência direta do acontecimento, o testemunho da ocorrência do acontecimento a outra pessoa, o conhecimento de que o acontecimento ocorreu a um familiar ou amigo próximo, ou a exposição repetida ou extrema a pormenores do acontecimento (como no caso dos socorristas e outras profissionais que trabalhem em e com situações extremas). Subsequentemente, a pessoa revive o acontecimento através de memórias intrusivas e pesadelos. Algumas memórias podem ser tão vivas que a pessoa sente que está a viver o acontecimento de novo, o que é conhecido como flashback. O indivíduo pode evitar tudo o que lhe faça lembrar o trauma, incluindo conversas, locais ou mesmo tipos específicos de pessoas. Pode sentir-se emocionalmente entorpecido ou limitado na sua capacidade de sentir, o que pode interferir nas suas relações interpessoais. A pessoa pode não ser capaz de se lembrar de certos aspectos do que aconteceu durante o evento. A pessoa pode ter a sensação de que o seu futuro está a ser encurtado, que nunca irá casar, ter uma família ou viver uma vida longa e plena. Podem sentir-se nervosas ou assustadas com facilidade, hipervigilantes em relação ao que as rodeia e com acessos de raiva.

A prevalência de PTSD na população em geral é relativamente baixa, com 6,8% de pessoas que sofreram PTSD em algum momento da sua vida (6). O combate e a agressão sexual são os traumas precipitantes mais comuns (6). Enquanto a PTSD era anteriormente categorizada como uma Perturbação de Ansiedade, na versão mais recente do DSM foi reclassificada sob a categoria mais específica de Perturbações Relacionadas com Traumas e Stressores.
Uma pessoa com PTSD é particularmente sensível a sinais internos e externos que servem para recordar a sua experiência traumática. Por exemplo, como vimos na PP, as sensações físicas extremas presentes durante o trauma inicial podem tornar-se ameaçadoras em si mesmas, tornando-se uma poderosa recordação do acontecimento. Uma pessoa pode evitar ver filmes intensos ou emotivos para evitar a experiência extrema emocional. Evitar conversas, recordações ou mesmo a própria experiência da emoção também pode ser uma tentativa de evitar o desencadeamento de sinais internos. Os estímulos externos que estavam presentes durante o trauma podem também tornar-se fortes factores de desencadeamento. Por exemplo, se uma mulher é violada por um homem que usa uma t-shirt vermelha, pode desenvolver uma forte reação de alarme à visão de camisas vermelhas, ou talvez ainda mais indiscriminadamente a tudo o que tenha uma cor vermelha semelhante. Um veterano de combate que tenha sentido um forte cheiro a gasolina durante um ataque bombista na berma da estrada pode ter uma reação de alarme intensa quando abastece gasolina em casa. Os indivíduos com uma vulnerabilidade psicológica para ver o mundo como incontrolável e imprevisível podem debater-se particularmente com a possibilidade de acontecimentos traumáticos futuros adicionais e imprevisíveis, alimentando a sua necessidade de hipervigilância e evitamento e perpetuando os sintomas de PTSD.
Perturbação Obsessivo-Compulsiva
Já alguma vez teve um pensamento estranho na sua mente, como imaginar o estranho ao seu lado nu? Ou talvez tenha passado por um quadro torto na parede e não tenha resistido a endireitá-lo. A maioria das pessoas tem ocasionalmente pensamentos estranhos e pode até ter alguns comportamentos “compulsivos”, especialmente quando está stressada (20). Mas para a maioria das pessoas, estes pensamentos não passam de uma estranheza passageira e os comportamentos são feitos (ou não feitos) sem pensar duas vezes. Para alguém com perturbação obsessivo-compulsivo (POC), no entanto, esses pensamentos e comportamentos compulsivos não vêm e vão. Em vez disso, os pensamentos estranhos ou invulgares são interpretados como significando algo muito mais importante e real, talvez mesmo algo perigoso ou assustador. O desejo de adotar um determinado comportamento, como endireitar um quadro, pode tornar-se tão intenso que é quase impossível não o realizar, ou causar uma ansiedade significativa se não puder ser realizado. Além disso, uma pessoa com POC pode ficar preocupada com a possibilidade de o comportamento não ter sido realizado até ao fim e sentir-se compelida a repetir o comportamento uma e outra vez, talvez várias vezes até ficar “satisfeita”.

Para receber um diagnóstico de POC, uma pessoa tem de ter pensamentos obsessivos e/ou compulsões que parecem irracionais ou sem sentido, mas que continuam a surgir na sua mente. Alguns exemplos de obsessões incluem pensamentos de dúvida (como duvidar que uma porta esteja trancada ou que um eletrodoméstico esteja desligado), pensamentos de contaminação (como pensar que tocar em quase tudo pode provocar cancro), ou pensamentos ou imagens agressivos que não são provocados ou não fazem sentido. As compulsões podem ser realizadas numa tentativa de neutralizar alguns destes pensamentos, proporcionando um alívio temporário da ansiedade que as obsessões causam, ou podem ser absurdas em si mesmas. De qualquer forma, as compulsões distinguem-se pelo facto de serem repetitivas ou excessivas, de a pessoa se sentir “impelida” a realizar o comportamento e de sentir uma grande angústia se não conseguir realizar o comportamento. Alguns exemplos de comportamentos compulsivos são a lavagem repetitiva (muitas vezes em resposta a obsessões de contaminação), a verificação repetitiva (fechaduras, maçanetas, electrodomésticos, muitas vezes em resposta a obsessões de dúvida), ordenar e organizar as coisas para garantir a simetria, ou fazer as coisas de acordo com um ritual ou sequência específica (como vestir-se ou preparar-se para dormir numa ordem específica).
Para preencher os critérios de diagnóstico de POC, o envolvimento em obsessões e/ou compulsões deve ocupar uma quantidade significativa do tempo da pessoa, pelo menos uma hora por dia, e deve causar sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento. Cerca de 1,6% da população preenche os critérios para POC ao longo da vida (6). Enquanto o POC era anteriormente classificado como um Transtorno de Ansiedade, na versão mais recente do DSM ele foi reclassificado sob a categoria mais específica de Transtornos Obsessivo-Compulsivos e Relacionados.
As pessoas com POC confundem frequentemente o facto de terem um pensamento intrusivo com a possibilidade de o concretizarem. Enquanto a maioria das pessoas, quando tem um pensamento estranho ou assustador, é capaz de o deixar passar, uma pessoa com POC pode ficar “presa” ao pensamento e ter um medo intenso de que possa, de alguma forma, perder o controlo e agir. Ou pior, acredita que ter o pensamento é tão mau como atuar. A isto chama-se fusão pensamento-ação. Por exemplo, uma doente minha era atormentada por pensamentos de que iria fazer mal à sua filha pequena. Tinha imagens intrusivas de atirar café quente à cara da filha ou de lhe colocar a cara debaixo de água quando lhe estava a dar banho. Estas imagens eram tão aterradoras para a doente que ela já não se permitia qualquer contacto físico com a filha e deixava-a ao cuidado de uma ama se o marido ou outra família não estivesse disponível para a “supervisionar”. Na realidade, a última coisa que ela queria fazer era magoar a filha, e não tinha qualquer intenção ou desejo de agir de acordo com os pensamentos e imagens agressivas, nem qualquer pessoa com POC age de acordo com esses pensamentos, mas esses pensamentos eram tão horríveis para ela que fez todas as tentativas para se prevenir da possibilidade de os realizar, mesmo que isso significasse não poder pegar na filha ao colo, embalá-la ou acariciá-la. Estes são os tipos de lutas que as pessoas com POC enfrentam todos os dias.
Tratamentos para a ansiedade e perturbações relacionadas
Ao longo dos anos, foram desenvolvidos muitos tratamentos bem sucedidos para a ansiedade e perturbações relacionadas. Os medicamentos (ansiolíticos e antidepressivos) têm-se revelado benéficos para outras perturbações que não a fobia específica, mas as taxas de recaída são elevadas quando os medicamentos são interrompidos (21), e algumas classes de medicamentos (tranquilizantes menores ou benzodiazepinas) podem criar hábitos.
As terapias cognitivo-comportamentais (TCC) baseadas na exposição são tratamentos psicossociais eficazes para as perturbações de ansiedade, e muitas mostram efeitos de tratamento superiores aos da medicação a longo prazo (22). Na TCC, os pacientes aprendem competências para ajudar a identificar e alterar processos de pensamento, crenças e comportamentos problemáticos que tendem a agravar os sintomas de ansiedade, e praticam a aplicação dessas competências a situações da vida real através de exercícios de exposição. Os doentes aprendem como as “avaliações” ou pensamentos automáticos que têm sobre uma situação afectam tanto a forma como se sentem como a forma como se comportam. Do mesmo modo, os doentes aprendem como a adoção de determinados comportamentos, como evitar situações, tende a reforçar a crença de que a situação é algo a temer. Um aspeto fundamental da TCC são os exercícios de exposição, em que o doente aprende a aproximar-se gradualmente de situações que considera temerosas ou angustiantes, de modo a desafiar as suas crenças e a aprender novas associações menos temerosas sobre essas situações.
Normalmente, 50% a 80% dos doentes que recebem medicamentos ou TCC apresentam uma boa resposta inicial, sendo o efeito da TCC mais duradouro. Os desenvolvimentos mais recentes no tratamento das perturbações de ansiedade estão a centrar-se em novas intervenções, como a utilização de determinados medicamentos para melhorar a aprendizagem durante a TCC (Otto et al., 2010) e tratamentos transdiagnósticos que visam vulnerabilidades fundamentais e subjacentes (Barlow et al., 2011). À medida que avançamos na nossa compreensão da ansiedade e das perturbações relacionadas, também os nossos tratamentos avançam, com a esperança de que, para as muitas pessoas que sofrem destas perturbações, a ansiedade possa voltar a ser algo útil e adaptativo, em vez de algo debilitante.

Referências:
(3) Genetic variation in 5HTTLPR is associated with emotional resilience – PubMed (nih.gov)
(7) Cognitive theories of generalized anxiety disorder – PubMed (nih.gov)
(11) ORGANIZATION FOR PHYSIOLOGICAL HOMEOSTASIS | Physiological Reviews (physiology.org)
(12) A cognitive approach to panic – ScienceDirect
(13) A psychometric reanalysis of the Albany Panic and Phobia Questionnaire – PubMed (nih.gov)
(14) Gender differences in phobias: Results of the ECA community survey – ScienceDirect
(15) Phenomenology of Panic and Phobic Disorders | Request PDF (researchgate.net)
(16) How specific are specific phobias? – PubMed (nih.gov)
(17) Social anxiety and social norms in individualistic and collectivistic countries – PubMed (nih.gov)
(20) (PDF) Whence Cultural Rituals? A Cultural Selection Model of Ritualized Behavior (researchgate.net)
Imagens do artigo cedidas por Freepick
Uma resposta
A ansiedade é uma reação natural que nos ajuda a enfrentar os desafios do dia-a-dia, mas para algumas pessoas a ansiedade pode ser uma perturbação difícil de ultrapassar. Visite-nos Telkom University Jakarta