
Bill Gates, Elon Musk, José Mourinho, Pep Guardiola, Robbin Williams, Leonardo DiCaprio, Cristiano Ronaldo, Lionel Messi… e tantas outras pessoas de sucesso e excecionais de que já ouvimos falar ou conhecemos e de quem muitas vezes sentimos inveja (saudável) por tudo o que alcançaram e muitas vezes sonhamos como seria estar no lugar deles, ser como eles…
Mas parece que no Topo do mundo, nesse lugar que estão as pessoas de sucesso, nem tudo são rosas, nem tudo são coisas boas. Muitas vezes essas pessoas têm níveis de stress enormes no trabalho, estão sobre pressão constante, têm que tomar decisões muito complicadas todos os dias, têm pouco tempo para a família e para desenvolver projetos pessoais que não tenham a ver com o trabalho e tem muitas vezes uma responsabilidade enorme sobre os ombros. Muitos são Workaholics Patológicos (será isto um Pleonasmo?), gigantes com pés de barro que vivem num precário estado de saúde. Muitos não têm vida social, alguns estão semanas ou mesmo meses sem ver a família e os contactos sociais são reduzidos. Muitos acabam por desenvolver burnout e depressão. Mesmo em profissões consideradas de “prestígio”, mas de grande responsabilidade os níveis de doença mental (entre elas depressão, burnout e abuso de substâncias) são alarmantes. Em Portugal Médicos, Juízes e Advogados estão entre os profissionais que pior saúde mental têm. A taxa de suicídio entre jovens médicos é mais elevada que na população normal. Serão tudo sinais que o sucesso tem um preço, muitas vezes demasiado caro?
No dia 26 de janeiro o mundo desportivo e não só, teve uma surpresa e um choque: Jurgen Klopp, treinador Alemão do Liverpool, apresentava a sua demissão. Deixaria o clube no final da época, porque não se sente com forças. Segundo o próprio Klopp, ele quer ter uma vida “normal”. Deseja parar para aproveitar uma vida “normal”. Ele próprio considera-se uma pessoa “normal”, mas que não tem tempo para ser “normal”.
Para quem não segue o futebol e não sabe quem é Jurgen Klopp, pode-se dizer, resumidamente, que ele é um dos grandes treinadores do futebol moderno. Adepto de um futebol de alta pressão, adorado pelos adeptos do Liverpool, veio resgatar o clube do marasmo e mediocridade em que se encontrava. Nos quase 9 anos que treinou o clube da cidade dos Beatles, devolveu-lhe a grandiosidade e ganhou 7 títulos, entre eles uma Champions League e o Campeonato de Inglaterra. Conhecido por ser extremamente emotivo e, além de grande treinador admirado pelos adversários, também é admirado pela sua personalidade e pelo Homem que é. E assim, do nada, decidiu parar. Teve a coragem de dizer chega, que não se sente com forcas para continuar a este nível e necessita de uma pausa. Como ele disse, e eu volto a referir, necessita voltar a ser “normal”.
Estar no topo é desgastante, ainda para mais num grande clube, da liga Inglesa o campeonato mais competitivo do Mundo em que apenas os melhores dos melhores estão. Manter-se no topo durante mais de 1 década, com os seus altos e baixos, realmente consome uma pessoa. O que ele teve de sacrificar? Pois algo muito importante, que a maior parte das vezes nos passa despercebido por ser algo que temos adquirido: o ser “normal”.
Klopp deseja voltar a ser “normal”, como ele refere, quer viver um ano sendo “normal”. Mas o que é “normal”. Normal, é poder estar com a família, aproveitar essas pequenas coisas da vida que nós temos como adquiridas, esses passeios no parque sem ser importunado, ter direito á sua privacidade e à da sua família. Poder ter uma vida e não estar sobre constante pressão. Pode parecer simples, mas na realidade não é. A nossa sociedade é muito/demasiado sucesso-orientada e não dá valor às pequenas e simples coisas da vida. Perguntem ao Jurgen Klopp, quando é que ele aproveitou um por do sol tranquilamente? Ou quando foi a última vez que passou um Natal tranquilo com a família? Não nos podemos esquecer que em Inglaterra existe o chamado “Boxing Day”, em que há jogos de futebol no dia imediatamente a seguir ao Natal.
Nós, pessoas ditas “normais”, muitas vezes não sabemos a sorte que temos e como somos muitas vezes invejados por aqueles a quem nós invejamos.
A realidade é que o Sucesso é diferente para cada pessoa. Enquanto para alguém pode ser ter uma boa profissão, ganhar muito dinheiro, ter uma grande casa e um grande carro; para outro pode ser ter a sua família e viver uma vida tranquila. Por isso é tão difícil medir o sucesso.
Mas o “sucesso” que nos é transmitido pelos media e com que somos bombardeados constantemente, muitas vezes não é saudável.
Ouvimos falar de suicídios, de jornadas de trabalho maratonianas, divórcios, depressões, tristezas, clínicas de reabilitação e isso tudo para quê? Para um “sucesso” efémero, em que no final são mais os arrependimentos do que as vitórias?
Quando trabalhei numa unidade psiquiátrica na Alemanha, estive numa clínica aonde só estavam pessoas de posses, da classe média alta, alta da Alemanha. Digamos, gente de negócios, profissionais liberais, empresários, gestores, investidores… Estavam na clínica, porque alguns tinham depressão, outros burnout, outros crises de ansiedade… a maior parte tinha crise de ansiedade… Na psicoterapia, vinham sempre à baila os mesmo temas: a família, muitas vezes descurada; o tempo que não tinham para si, para os seus e para os seus interesses; a pressão que tinham para manter o status quo; o como odiavam o seu trabalho (então não era um trabalho de sonho?) e só o exerciam devido à recompensa financeira; como a sociedade os pressionava a manter um certo e determinado estilo de vida que eles não queriam; como uma grande parte das relações que eles tinham ou tiveram eram única e exclusivamente por interesse; que os outros à sua volta não os viam como pessoas “normais”, mas como pessoas “diferentes” de “sucesso” e que isso criava uma barreira entre eles e os outros.
Foi de facto uma experiência muito interessante para mim, porque me deu uma perspetiva muito diferente do que pensava que era a vida das pessoas de “sucesso”. E fiquei a saber o que é estar no Topo. E percebi também que para ser como um Jurgen Klopp é necessária coragem. Muita coragem.
Afinal voltar a ser “normal”, depois de tudo o que sacrificámos para ter “êxito” ou alcançar “sucesso” pode parecer uma derrota. E aos olhos da sociedade é uma derrota, mas para quem sofre com o “sucesso” é o melhor a fazer.
É preciso ter coragem para parar, respirar, pensar na vida, fazer outros planos, deixar esse “sucesso” e olhar para a realidade, para o que para nós realmente interessa. Parar 1 ano! Quem pode? Quem quer?
Mas é uma realidade cada vez mais presente na sociedade, se repararmos cada vez há mais gente que deixa trabalhos e posições bem remuneradas nas finanças, na tecnologia e procura um trabalho com outro propósito. Um trabalho onde se sinta realizado. Mas principalmente uma profissão que deixe a pessoa ser, sentir e ser humano. Que a pessoa seja algo mais que uma “pessoa de sucesso”, que a pessoa seja uma “pessoa normal”.
Referências:
Artigo originalmente publicado em Estado com Arte
Imagens do artigo cedidas por Freepick
Uma resposta
É interessante ver um outro lado do sucesso que raramente é discutido. Vemos frequentemente pessoas como Bill Gates, Elon Musk, José Mourinho e muitas outras figuras de sucesso como figuras inspiradoras. Visite-nos Telkom University Jakarta